Meu nome é Chrysti, e vou contar uma história, se isso puder ajudar
alguém a não cometer os mesmos erros que cometi, ficarei muito feliz.
Eu estava completando oito anos quando pedi a minha mãe um vestido
novo. Fomos então ao centro da cidade. Entramos em uma loja muito
bonita, com papel de parede de flores, arranjos nas mesas, moças muito
simpáticas que estavam atendendo os clientes. Tinha uma mesinha com
doces para quem quisesse degustar. Minha mãe deixou que eu pegasse
algumas balas enquanto a moça, muito atenciosa pegava os vestidos para
eu experimentar.
- Crysti, minha querida, venha ver os vestidos, são todos lindos.
- Ah, eu gostei destes.
Peguei quatro vestidos, um amarelo, um com rosas, outro listrado, e
um branco com flores azuis e vermelhas. Minha mãe me levou até o
provador onde me ajudou com os vestidos. Todos ficaram lindos e a moça
dizia para levar todos.
- Dona Alicia, leve todos, sua filha ficou linda…
Acho que era conversa de vendedora, mas realmente eu amei todos eles, e ficaram todos lindos em mim.
Minha mãe então decidiu levar todos eles, minha alegria era única, eu
tinha agora quatro vestidos lindos para passear com meus pais.
No dia seguinte foi a minha festa de aniversário, meu pai pediu para
fazer um bolo bem bonito de nozes com chocolate, é o bolo que eu mais
amo, e minha mãe enfeitou a casa para os convidados.
Chegou a hora da festa!! Quanta alegria. Uma dúvida estava em minha
mente. Qual vestido eu iria colocar… pedi para minha tia Aury chamar meu
pai, ele sempre teve um bom gosto e iria me ajudar nessa pergunta.
-Charlie, Chrysti está te chamando para ajudá-la na escolha do vestido.
Meu pai chegou e com sorriso nos lábios me disse:
- O vestido branco com flores azuis combina com seus olhos, minha querida.
Meu cabelo era bem loiro, com cachos nas pontas, e meus olhos azuis como os da minha mãe.
Muito bem, coloquei o meu vestido novo, minha tia prendeu meus
cabelos com uma flor vermelha, e meus sapatos eram brancos com laço de
cetim.
Eu estava linda. Todos diziam que eu estava linda e eu também achava.
Chegou a hora de cortar o bolo, cantamos parabéns e depois das fotos
eu estava liberada para brincar com meus colegas, só não podia sujar o
meu vestido novo.
Começamos a brincadeira, pique e esconde, já estava noite então
ficava mais gostoso, pois seria mais difícil de alguém me encontrar. Eu
me achava muito esperta em esconderijos. Dias antes ficava procurando
lugares aonde ninguém iria me encontrar. Como morava em um sítio, eu
tinha muitas opções. Minha mãe sabia que eu gostava muito de me
esconder, às vezes até me ajudava a encontrar alguns esconderijos
secretos.
Mas esse dia foi diferente, foi onde começou o meu tormento…
Um, dois, três, quatro… contava Dora para vir nos procurar. Mais do
que depressa fui para meu lugar atrás da casa do caseiro, que já estava
sem ninguém há um ano, pois ele voltou para sua terra natal e meu pai
ainda não havia encontrado outro para assumir o seu lugar.
Fiquei lá atrás, bem quietinha, sem fazer nenhum barulho, quando de
repente ouvi o nosso vizinho, que sempre brincava comigo, me chamar. Eu
disse que não podia porque estava brincando com meus amiguinhos, porém
ele insistiu. Disse que tinha algo para me mostrar. Como ele sempre foi
muito carinhoso comigo, me dava presentes e doces, e era amigo do meu
pai, achei que não tinha nenhum problema.
Ele me levou para dentro da casa do caseiro e eu perguntei:
- Tony, o que você quer aqui dentro? Essa casa está vazia e cheira mal, quero voltar para brincar com meus amigos.
Ele me olhou furioso e simplesmente pegou meu braço com toda força, tapou minha boca com sua mão enorme, e disse:
- Se falar isso que está acontecendo aqui com alguém, eu mato sua mãe!!
Minha mãe, não meu Deus, minha mãezinha não, eu não posso deixar!!! O
que eu faço? Não posso gritar, não tenho a força que ele tem…
O cheiro ruim daquela casa estava dentro de mim, e aquele homem enorme, com barba fedorenta, fez algo que acabou com minha vida…
Depois de alguns minutos ele me disse para voltar e brincar com meus
amigos, se eu dissesse algo para alguém, minha mãe corria perigo de
morte.
Arrumei meu vestido e meus sapatos brancos com laço de cetim, meu
cabelo estava embaraçado, a flor vermelha que minha tia colocou, se
perdeu naquela casa fedorenta.
Voltei para a festa, e ele estava lá, com sorriso nos lábios e
fazendo sinal para eu ficar quieta. Ele chegou perto da minha mãe e
disse olhando para mim:
- Dona Alicia, sua filha está muito linda, a senhora está de parabéns.
Minha mãe, coitada sem saber de nada, agradeceu o monstro e mais uma vez ele me olhou e com o dedo fez sinal para eu me calar.
A festa acabou para os convidados, mas para mim havia acabo no momento que o monstro me levou para dentro da casa fedorenta.
Aquela noite foi de terror, meu corpo doía muito, meus ossos pareciam
quebrados, eu estava sangrando. Coloquei então um lenço em mim para
minha mãe não perceber, eu estava com muito medo.
Eu tremia muito e meus dentes estavam serrados, era uma mistura de
dor com ódio. O que o monstro tinha feito comigo? O que foi aquilo?
Porque eu estava toda dolorida? E porque eu sangrava?
Sonhei com ele, o monstro. Pensei que era pesadelo, mas não, era realidade, eu não sabia o que fazer…
No dia seguinte, acordei e tomei meu banho, percebi que meu braço
estava roxo, coloquei então uma camiseta com mangas longas, para ninguém
perceber, estava um pouco frio, foi minha sorte. Olhei minha cama para
ter certeza que não havia marcas de sangue, e graças a Deus não tinha.
Como de costume arrumei o lençol e coloquei meu travesseiro junto ao
cobertor dentro do baú, arrumei meus cinco ursinhos de pelúcia em cima
da cama, peguei meu material e fui para a escola.
Eu não conseguia falar, acho que nem me lembrava que tinha que
respirar só vinha na minha lembrança aquela cena horrorosa do monstro…